CULTURA E LUTAS OPERÁRIAS
O Projeto da Associação Comunitária de Desenvolvimento e Lazer de Carneirinhos (ACDLC): João Monlevade: Cultura e Lutas Operárias é uma ação local, refletida na expressão da territorialidade com ênfase na localidade e reconhecimento das especificidades de convivência social. A ação consiste em escrever um livro sobre a temática as lutas operárias no Brasil estabelecendo como objeto A Greve dos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira – Usina de João Monlevade de 1986.
O projeto utilizará como fonte primária as matérias jornalisticas publicadas entre 16 de julho e 08 de agosto de 1986, nos exemplares da Revista Mostrar; do Jornal A Noticia; da Tribuna de Monlevade; do Jornal O Estado de Minas; O Diário da Tarde e do Jornal O Globo, Jornal O Liberal de Belém/PA e Jornal O Estado de São Paulo de São Paulo/SP. O histórico da luta operária produzir profundo impacto na territorialidade monlevadense. Em 1979, quando as greves pipocaram por todo o país, os operários da CSBM liderados por João Paulo Pires Vasconcelos, presidente do Sindicato dos trabalhadores dos metalúrgicos de João Monlevade se converteram em uma espécie de grupo de assessoria em várias localidades, ajudando em alguns casos na negociação entre os lideres sindicais e suas bases em rebelião.
De acordo com a socióloga do trabalho Maria Hermínia Tavares de Almeida, “as greves pareciam inspiradas mais pela necessidade de testemunhar as aspirações operárias de liberdade, autonomia e direito a uma cidadania plena, do que por qualquer reivindicação de curto prazo”. Tratava-se de um movimento inovador, de relevância cultural e simbólica para aquele contexto sociocultural e patrimonial do município de João Monlevade. O velho sindicato de Vargas se dobrava ao Novo Sindicalismo dos operários monlevadenses.
Ao colocar em evidencia em todo territorio nacional, a luta dos operários da Conpanhia Siderúrgica Belgo Mineira, o Diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade em Minas Gerais, João Paulo Pires de Vasconcelos obteve amplo respeito, pela qualidade do seu trabalho com as bases. Jacó Bittar, outro fundador do PT e também presidente do Sindicato dos Petroleiros de Paulínia, São Paulo, impirando-se no movimento de João Monlevade, ajudou a colocar seu sindicato na linha de frente dos que exigiam o fim das restrições impostas aos sindicatos dos setores estatais.
Greve de 1986 – Apresentação
Talvez, depois da chegada do Martelo-Vapor neste território de “São Miguel de Piracicaba (atual João Monlevade)”, utilizado para forjar blocos em peças de ferro em dimensões até então jamais produzidas no Brasil, fato que deixou curioso o excêntrico João Batista Ferreira de Sousa Coutinho, o Barão de Catas Altas, ninguém menos que o homem mais rico do Brasil Império, dono de ricas Minas de Ouro, conhecido por suas gastanças extravagantes, a Greve de 1986 tenha sido o evento de maior impacto e que mais marcou a história recente deste território.
No dia 16 de julho de 1986, a partir das 15 horas, trabalhadores da usina de Monlevade da então Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira (hoje ArcelorMittal) decidiram paralisar suas atividades, em resposta ao não atendimento a suas reivindicações. Eles ficaram no interior da siderúrgica até a manhã do dia 08 de agosto de 1986, na que seria a mais longa greve de metalúrgicos na cidade até o momento. Foram 23 dias de movimento paredista.
Uma verdadeira guerra de informações envolveu os dois lados – patrões e trabalhadores – e tomou conta da imprensa local, com repercussão na mídia nacional. Um fato sócio cultural muito marcante desse acontecimento foi o apoio do Movimento das Mulheres, que, por iniciativa de esposas de metalúrgicos, como a professora Celeste Semião e Maria Leonides Ramos (Leo, casada com Antônio Ramos, que viria a presidir o Sindicato de 1987 a 1990), com apoio dos professores associados ao Sind-UTE/MG montaram uma verdadeira cozinha junto às grades da usina, para dar suporte aos companheiros. O médico Luiz Amaral, que trabalhava para a empresa, prestou assistência de saúde aos grevistas e, em razão disso, acabou demitido.
Quiça seja este o tema mais necessário às memórias do município. O presente plano de trabalho concentra-se em recuperar as memórias do movimento operário, para que não caia no esquecimento, assim como ocorreu com a história do pioneiro Jean-Antoine Félix Dissandes de Monlevade, fundador da cidade. Não se pode desprezar a pertinência e a originalidade da temática lutas operárias no Brasil para o território monlevadense, quer seja por seu ineditismo, singularidade ou relevância cultural.
Observa-se que o próprio hino do município de João Monlevade ressalta sobre a importância histórico cultural do trabalho, vontade e bravura de sua gente. Iniciada na força negra que produziu na “forja e na chama o aço, marca da cidade e sua cultura operária a se transformar e reproduzir ao longo dos anos”. “Independente da labuta e do cansaço de sua força” o município, hoje reconhecido como capital do fio máquina é uma constante metamorfose em busca de liberdade, autonomia e direito a uma cidadania plena.
Portanto, este é um Projeto com linguagens e expressões criativas originais de relevância cultural e simbólica no contexto sociocultural e patrimonial do município. Do ponto de vista da promoção de diversidade, é possível afirmar que as classes operárias brasileiras foram sempre relegadas ao segundo plano, por mais que se reconheça a sua importância. Este projeto é também uma forma de inclusão na história e na cultura brasileira de grupos que estiveram por muito excluídos e sem voz, verdadeiros heróis anônimos.

